4.5.08

A dor

tece que nessas horas fico extremamente angustiado, e nesse momento parece que o véu da ilusão desaba diante do meu ser e me vejo frágil, incapaz de ir contra as ondas que me impulsionam, e completamente só. Sinto meu comportamento destrutivo e enxergo apenas desgraça, egoísmo, medo e veneno nos meus atos, no meu dia a dia. Um complexo ser de passado, presente e futuro vagando em função de superficialidades, afundando minha saúde por pouca coisa. E é isso mestre. Nesse momento não vejo luz no fim do túnel, não vejo Buda, não vejo Deus. Vejo um cadáver putrefando-se, olho a janela e vejo um vasto universo que se estende por inimagináveis planetas e estrelas. E é apenas EU, e eu passo, eu me encaminho pra noite sem estrelas.

- É exatamente esse o ponto, meu caro aluno. Você se sente refém por que realmente acredita que tudo isso existe. Nesse exato momento você vê tudo como uma concretude, o mundo como ele realmente é, como se realmente algo fosse, como se aqueles instantes do mais insuportável desespero fossem a vida como tal, como é. Mas não esqueça que ela é essa dança, ela apenas é. A natureza apenas flui, não há realmente você. Você tem medo da não existência, mas no fundo não se da conta que é sendo você mesmo que você inexiste de fato. Deixe essa mente relaxar, esse corpo parar de penar, de reagir a tantos estímulos, a tanto EU, tanta demanda concentrada em você... tanta tensão. Você nunca vai compreender nada. Mas a compreensão existe no ser que somos quando deixamos de achar que somos alguma coisa de fato.

O jovem ocidental vomitou mais uma vez. Vomitaria milhares de vezes e o mestre seguiria ali, e muitas vidas se passariam até que ele realmente se purificasse. O mestre sabia disso e sorria. Sabia que naquele momento o praticante voltava a pisar na estrada do ensinamento profundo, e que essa dor desaguava para devolver-lhe paz.

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