10.4.09

Sanções para uma vida miserável

como se tivesse poder para tal. Qualquer dia mato aquele corno! E tenho certeza que teria ajuda de muitos. Aquele velho não prestava.

Volto para casa e os pêlos da minha barba ainda estão espalhados pela pia... a ilusão de encontrar limpeza é a mesma de abrir a geladeira na esperança de vê-la cheia. Minha mulher costumava fazer esses serviços, mas agora já estou a caminho do terceiro entupimento e minha geladeira só é um bloco de metal gigante cheio de números de tele-entrega. Dentro somente um leite azedo, uma pizza "a moda da casa" horrível e umas cervejas. Fico pensando no risco que esse camarada se sujeita fazendo uma pizza tão ruim e considerá-la "a moda da casa". É como ter vontade de fechar a pizzaria sem querer admiti-la de fato, não ter coragem...

Nunca me dei bem com a culinária. Se pessoas dedicavam suas vidas a preparar comida para os outros comprarem, achava justo valorizar esse trabalho. Assim como acredito que eles consideram justo pagar para que eu projete alguns edifícios. Afinal, uma panela de arroz queimado e um edifício desabando no fundo são a mesma coisa: trabalho mal feito. E se isso acontece é por alguém estar gozando de um título que não é merecedor.

Tudo tranqüilo, tranqüilo até demais. Morar sozinho tem disso, tudo perde a vida quando você não está. Às vezes, sinto um estranho desejo de ver a porta arrombada, com as coisas fora do lugar que eu havia deixado.

Sinto falta da minha mulher. Não somente por esses serviços habituais que ela fazia por mim, mas sinto falta de abrir a porta e ver um rosto familiar, disposto a ouvir minhas reclamações quanto a vida, alguém pra me contar sobre casos isolados vistos na rua e que meus olhos não puderam presenciar. Talvez por reclamar tanto da vida que ela havia me deixado. A verdade é que nunca saberei, ela não me dirige a palavra desde aquele dia